De Infanta de Aragão a Rainha de Portugal
uma resenha do romance histórico contemporâneo português A Rainha Santa, de Isabel Machado
Palavras-chave:
A Rainha Santa, D. Isabel de Aragão, Isabel Machado, Romance Histórico Contemporâneo Português, Autoria FemininaResumo
A Rainha Santa (2017), de Isabel Machado, é um romance histórico contemporâneo português que tem como panorama histórico os conflitos entre três reinos da península ibérica na Baixa Idade Média: Portugal, Aragão e Castela. A obra é narrada em terceira pessoa, por um narrador onisciente e, em primeira pessoa, pela protagonista D. Isabel. Tendo como leitmotiv da narrativa, a trajetória – do nascimento ao falecimento – da figura histórica D. Isabel de Aragão, Rainha de Portugal e Santa da Igreja Católica Apostólica Romana. Dentre as temáticas que conseguimos identificar ao longo do enredo romanesco, enfatizamos: a representação feminina no medievo europeu, o amor cortês, a maternidade, o patriarcalismo, a guerra civil, o autoritarismo monárquico, o teocentrismo, tendo mais destaque, a política e o sagrado. Entre Ficção e História, a personagem romanesca D. Isabel tenta lidar com todos esses elementos citados anteriormente, mas, os que sobressaem e moldam a imagem da referida protagonista consistem na sua maternidade, nos seus feitos políticos e na sua forte relação com o sagrado. Portanto, vemos que, é no âmbito da metaficção historiográfica – que se apresenta como um campo profícuo para subversão de padrões estabelecidos pela crítica literária canônica –, que Isabel Machado (2017) utiliza desse subgênero literário para abordar problematizações e releituras crítico-reflexivas da Baixa Idade Média portuguesa. Visto que, a romancista traz para o primeiro plano da sua narrativa romanesca uma personagem feminina e, ao mesmo tempo, a apresenta como protagonista que tem um lugar de fala, pois ela narra, questiona, subverte padrões, transgride normas e exerce papéis que, outrora, o sistema patriarcal destinava apenas ao masculino; o que, de certa maneira, não aparece comumente nos romances históricos tradicionais. Em síntese, constatamos que, através da releitura da figura histórica como D. Isabel de Aragão, Isabel Machado (2017) nos mostra, entre rosas, santas, liliths, damas, rainhas, agnes, agnus, aleivosas e personagens heterodoxas, uma Idade Média como palco para o protagonismo feminino.
Referências
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