SACO VAZIO NÃO PARA EM PÉ: ANOTAÇÕES SOBRE A FOME NA HISTÓRIA
DOI:
https://doi.org/10.29327/243949.3.5-7Keywords:
Fomes antigas, Fomes modernas, Socorros públicos aos famélicos, Grandes FomesAbstract
As grandes crises de fome são constantes na história, razão pela qual constituem tema de reflexão em muitos campos das humanidades. Neste trabalho, baseado na perspectiva da longa duração, examina-se a historiografia sobre o assunto desde a Antiguidade aos tempos mais recentes com o objetivo de estabelecer uma tipologia compreensiva das grandes fomes na história, envolvendo critérios cronológicos, fatores desencadeadores das crises de subsistência e modalidades de socorros públicos empregados pelas sociedades atingidas. Para além de afirmar a fome como fenômeno social no qual se entrelaçam dimensões naturais, econômicas e sociopolíticas, conclui-se que há ruptura fundamental a partir dos séculos XVIII e XIX, pois as crises de fome passam a resultar muito mais de imposições geradas pelo avanço da economia de mercado ou de projetos políticos radicais de transformação social do que de eventuais desequilíbrios entre as dinâmicas demográficas, mudanças das condições naturais e os padrões de uso do solo.
References
APPLEBAUM, Anne. Fome vermelha: a guerra de Stálin na Ucrânia. Rio de Janeiro: Record, 2019.
BASTOS, Daniel Schneider. O direito à subsistência em xeque: um olhar sobre a lei dos pobres e o ato de emenda de 1834. História econômica & história de empresas, Rio de Janeiro, v. 21, n. 1, p. 135-173, 2018.
BOSERUP, Ester. Évolution agraire et pression démographique. Paris: Flammarion, 1970.
BRAUDEL, Fernand. A dinâmica do capitalismo. Rio de Janeiro: Rocco, 1987.
CARDOSO, Ciro Flamarion. A economia e as concepções no Egito faraônico: síntese de alguns debates. História econômica & história de empresas, v. 1, p. 151-178, 2003.
CASTRO, Josué de. Geografia da fome: o dilema brasileiro – pão ou aço. Rio de Janeiro: Antares, 1984.
CASTRO, Josué de. Geopolítica da fome. Rio de Janeiro: Casa do Estudante do Brasil, 1965.
DAVIS, Mike. Holocaustos coloniais: clima, fome e imperialismo na formação do Terceiro Mundo. Rio de Janeiro: Record, 2002.
DIKOTTER, Frank. A grande fome de Mao: história da catástrofe mais devastadora da China, 1958-62. Rio de Janeiro: Record, 2017.
DUFF, Greg. Causes and consequences of the Great Vietnam Famine, 1944–5. Economic History Review, v. 72, n. 1, p. 286-316, 2019.
GILLI, Patrick. Cidades e sociedades urbanas na Itália medieval. Belo Horizonte: Editora da UFMG; Campinas: Editora Unicamp, 2011.
GOUBERT, Pierre. El Antiguo Régime. Madrid: Siglo XXI, 1971.
KINEALY, Christine. The Great Irish Famine. Impact, ideology and rebellion. New York: Palgrave, 2002.
LADURIE, Emmanuel Le Roy. Os camponeses do Languedoc. Lisboa: Editorial Estampa, 1997.
LINHARES, Maria Yedda Leite. História do abastecimento: uma problemática em questão (1530-1918). Brasília: BINAGRI, 1979.
LUXEMBURGO, Rosa. The Accumulation of Capital. Londres: Routledge and Kegan Paul, 1951.
MALIA, Martin. La tragédie soviétique. Paris: Éditions du Seuil, 1995.
MENDRAS, Henri. Sociedades camponesas. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.
MENEZES JR., Antônio José Bezerra de. Confúcio e a centralidade do Mandato do Céu. Notandum, São Paulo, v. 17, n. 35/36, p. 163-169, 2014.
MITTER, Rana. China moderna. Porto Alegre: L&PM, 2011.
PELLINI, José Roberto. Reciprocidade e redistribuição no Egito durante o Novo Império. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, n. 12, p. 143-163, 2002.
PERKINS, Dwight H. Agricultural Development in China, 1368-1968. Chicago: Aldine, 1969.
PIPES, Richard. História concisa da Revolução Russa. Rio de Janeiro: Best Bolso, 2015.
POLANYI, Karl. A grande transformação: as origens de nossa época. Rio de Janeiro: Campus, 1980.
POLANYI, Karl. Le commerce sans marché au temps d'Hammourabi. In: POLANYI, Karl; ARENSBERG, Conrad M. Les systèmes économiques. Paris: Larousse, 1975. p 51-62.
QUEIROZ, Rachel de. O Quinze. Fortaleza: Est. Graphico Urania, 1930.
RIOS, Kênia Sousa. Isolamento e poder – Fortaleza e os campos de concentração na seca de 1932. Fortaleza: Imprensa Universitária, 2014.
ROMEIRO, Ademar Ribeiro. Meio ambiente e dinâmica de inovações na agricultura. São Paulo: Annablume/FAPESP, 1998.
SCHNEIDER, Adam W.; ADAL, Salim F. “No Harvest was reaped”: demographic and climatic factors in the decline of the Neo-assyrian Empire. Climate Chang, 127, p. 435-446, 2014.
SECRETO, María Verónica. A seca de 1877-1879 no Império do Brasil: dos ensinamentos do senador Pompeu aos de André Rebouças: trabalhadores e mercado. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 27, n. 1, p. 33-51, 2020.
SEN, Amartya. Poverty and famines. An Essay on entitlement and deprivation. Oxford: Clarendon Press, 1981.
SILVA, Marcelo Cândido da. Crise e fome na Alta Idade Média: o exemplo dos capitulários carolíngios. Anos 90, Porto Alegre, v. 24, n. 45, p. 185-207, 2017.
SILVA, Marcelo Cândido da. Os agentes públicos e a fome nos primeiros séculos da Idade Média. Varia Historia, Belo Horizonte, v. 32, n. 60, p. 779-805, 2016.
THAXTON JR., Ralph. Catastrophe and contention in rural China: Mao’s Great Leap Forward and the origins of the righteous resistance in Da Fo village. Cambridge: Cambridge University Press, 2008.
THOMPSON, Edward P. Costumes em comum: estudos sobre a cultura popular tradicional. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
VILAR, Pierre. Cataluña en la España moderna. El medio natural y el medio histórico. El siglo XVIII: Las transformaciones internas. Madrid: Editorial Crítica, 2018.
WALLACE, Rob. Pandemia e agronegócio: doenças infecciosas, capitalismo e ciência. São Paulo: Elefante, 2020.
WOODSIDE, Alexander. The Ch’ien-lung Reign. In: PETERSON, Willard J. The Cambridge History of Ch’ing Empire to 1800. Cambridge: Cambridge University Press, 2008.
WORSTER, Donald. Para fazer história ambiental. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 4, n. 8, p. 198-215, 1991.
ZIEGLER, Jean et al. The fight for the right to food. New York: Palgrave Macmillan, 2011.