EM NOME DA AGRICULTURA FAMILIAR: CONSIDERAÇÕES ACERCA DA MODERNIZAÇÃO DO CAMPESINATO
DOI:
https://doi.org/10.29327/243949.3.6-8Palavras-chave:
Agricultura familiar, campesinato, Geografia agrária, debate paradigmáticoResumo
Embora a definição de “agricultor familiar” se encontre estabelecida em termos normativos, no âmbito acadêmico, o termo ainda é amplamente debatido, sobretudo, no que diz respeito às divergências entre as categorias “campesinato” e “agricultura familiar”. Este artigo explora como diferentes representações dos termos supracitados se inserem no debate mais amplo sobre desenvolvimento territorial. A análise revela dois paradigmas distintos e suas respectivas referências teóricas para a proposição de modelos de desenvolvimento territorial. Concluímos que, apesar de seu caráter revolucionário, o uso do termo “agricultura familiar” evoca teorias que conferem destaque a uma dimensão estritamente econômica dos territórios, desconsiderando seu caráter multidimensional, multiescalar e, sobretudo, suas conflitualidades.
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