ANTROPOTOPIA: SUPERANDO O MITO DO ESPAÇO GEOGRÁFICO

Autores

  • CARLOS SANTOS UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA

DOI:

https://doi.org/10.29327/243949.5.9-2

Palavras-chave:

Palavras-Chave: Antropotopia, Exossomatismo, Espacialidade, Temporalidade, Cronotopia.

Resumo

Resumo

 A tese aqui defendida é que da mesma forma que a relação humana se dá com as temporalidades e não com o tempo, também nosso relacionamento se dá com as espacialidades e não com o espaço. No caso do tempo, este, enquanto uma dimensão da matéria, flui inexoravelmente no modo/comportamento dinâmico da materialidade, de forma independente dos humanos, portanto seria o tempo natural, por ser uma dimensão natural; claro que a fluição do tempo, por ser um movimento, é sempre relativo, isto é, sempre depende de um referencial, por exemplo, o marco zero da expansão inicial do Cosmo. Enquanto a outra dimensão, que é gêmea do tempo, o espaço, surge em função da extensão/volume da materialidade, algo completamente autônomo à ação humana, sendo, portanto, uma outra dimensão natural da matéria. Espaço e tempo se inserem na dinâmica da substancialidade da realidade ao ritmo da ação das forças fundamentais da natureza, e, destarte, sem nenhuma possibilidade de interferência humana na condição de dimensão de ambos. Assim, do mesmo modo que as temporalidades/historicidades ou histórias podem ser moduladas, o que não é possível com o tempo geral advindo da marcha do Cosmo, cuja flecha direciona-se apenas para frente sem retroagir, as espacialidades também são configuradas ou reconfiguradas ao sabor dos interesses e necessidades humanas (atualmente sob a égide do Capital), enquanto o espaço permanece como uma dimensão (e por isso uma possiblidade aberta) da materialidade a ser formatada. Portanto, a temática enfocada aqui é sobre a relação humana tanto com a espacialidade natural, inerente à extensão/volume da materialidade, quanto com a(s) espacialidade(s) resultante(s) do trabalho humano ao configurar/formatar esta mesma materialidade. Relação que tem como fundamento a universalidade da dimensão espacial na medida em que a materialidade é uma universalidade. Desse modo, a dimensão espacial é inerente a qualquer situação ou circunstância. Assim, quando se fala em geograficidades, por exemplo, se está referindo a episódios circunstanciais, contingenciais, de caráter telúrico, da dimensão espacial. Mas quando discutimos aqui as espacialidades estamos enfocando artefatos estruturais, formatações universais da dimensão espacial, construtos cronotópicos, eventos imersos no fluxo do mundo, enquanto a espacialidade mais sofisticada e complexa, e sem enfatizar ou considerar o caráter geográfico/telúrico dos mesmos. E tais espacialidades podem substituir as geograficidades na explicação antropotópica. Então, no esforço de se propor uma formulação para além do discurso geográfico pelo seu, aqui julgado, ultrapassado caráter telúrico, substituindo-o por um discurso com maior rigor conceitual a partir da assunção da universalização do imperativo espacial, presente na própria condição humana, através do fato de se tratar de entes exossomáticos. Para tanto, enveredamos pela discussão de um novo enfoque que chamamos de antropotópica, à luz de um pensamento espacial, teorizando sobre a produção de espacialidades e não de espaços, no bojo de uma nova abordagem: uma Antropotopia.

 

 

Biografia do Autor

CARLOS SANTOS, UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA

Professor Titular Aposentado da Universidade Federal de Rondônia, Departamento de Geografia, onde atuou na área de Geografia Humana. Autor de livros e artigos concernentes à sua área de atuação.

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Publicado

02-06-2025

Como Citar

SANTOS, CARLOS. ANTROPOTOPIA: SUPERANDO O MITO DO ESPAÇO GEOGRÁFICO. Boletim Alfenense de Geografia, [S. l.], v. 5, n. 9, p. 30–55, 2025. DOI: 10.29327/243949.5.9-2. Disponível em: https://publicacoes.unifal-mg.edu.br/revistas/index.php/boletimalfenensedegeografia/article/view/2646. Acesso em: 16 jun. 2025.